terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cultura Marajoara

CERÂMICA  MARAJOARA
Ilha de Marajó-Pará-PA


Tanga

Réplica: Inês Cardoso (1988)
    
      Cerâmica Marajoara  é fruto do trabalho dos índios da Ilha de Marajó. A fase mais estudada e conhecida se refere ao período de 400/1400 dC.
     Marajó é
a maior ilha fluvial do mundo, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins, e pelo Oceano Atlântico. Localiza-se no estado do Pará-PA, região norte do Brasil.

      O maior acervo de peças de Cerâmica Marajoara encontra-se no Museu Emilio Goeldi em Belém-PA. Há também peças no Museu Nacional no Rio de Janeiro, (Quinta da Boa Vista), no Museu Arqueológico da USP em São Paulo-SP, e no Museu Universitário Prof Oswaldo Rodrigues Cabral ,na cidade de Florianópolis-SC e em museus do exterior - American Museum of  Natural History-New York e  Museu Barbier-Mueller  em Genebra.

      Um dos maiores responsáveis, atualmente, pela memória e resgate da civilização indígena da ilha de  Marajó é Giovanni Gallo, que criou  em 1972 e administra o Museu do Marajó , localizado em Cachoeira do Arari.  O museu  reúne  objetos representativos da cultura da região - usos e costumes.
 

      Para se chegar à ilha leva-se 3 horas de barco, ou 30 minutos, de avião, partindo-se de Belém, capital paraense. Visando manter a tradição regional, o museólogo criou  um ateliê de cerâmica onde são reproduzidas e comercializadas peças copiadas do acervo.  O barro é modelado manualmente com a  técnica das cobrinhas (roletes), sem o uso do torno de oleiro.

      Os índios de Marajó faziam peças utilitárias e decorativas. Confeccionavam vasilhas, potes, urnas funerárias, apitos, chocalhos machados, bonecas de criança, cachimbos, estatuetas, porta-veneno para as flechas,  tangas (tapa-sexo usado para cobrir as genitália das moças) – talvez as únicas, não só na América mas em todo o mundo, feitas de cerâmica.
     Os objetos eram zoomorfizados (representação de animais)
ou antropomorfizados (forma semelhante ao homem ou parte dele), mas também  poderiam misturar as duas formas-zooantropomorfos.

    
Visando aumentar a resistência do barro eram agregadas outras substâncias-minerais ou vegetais: cinzas de cascas de árvores e de ossos, pó de pedra e concha e o cauixi-uma esponja silicosa que recobre a raiz de árvores, permanentemente submersas.

      As peças eram  acromáticas (sem uso de cor na decoração, só a tonalidade do barro queimado) e cromáticas. A coloração era obtida com o uso de engobes (barro em estado líquido) e com pigmentos de origem vegetal. Para o tom vermelho usavam o urucum, para o branco o caulim, para o preto o jenipapo, além do carvão e da fuligem.
      Depois de queimada, em forno de  buraco ou em fogueira a céu aberto, a peça recebia uma espécie de verniz obtido do breu do jutaí, material que  propiciava um acabamento lustroso.



Urna Funerária

    
     Nas urnas funerárias, os índios colocavam os restos de seus mortos-ossos acompanhados de objetos.  Externamente, tais urnas eram decoradas com desenhos gráficos relativos às crenças e aos deuses adorados.    
      A decoração da Cerâmica Marajoara era feita com traços gráficos simétricos e harmoniosos, em baixo e alto relevo, entalhes, aplicações e outras técnicas.  



    
     A descoberta de artefatos marajoaras é dificultada  por ser o solo da ilha extremamente úmido e sujeito a  inundações periódicas. Infelizmente, no correr dos anos, muitos objetos encontrados em escavações arqueológicas  foram saqueados e até contrabandeados para o exterior - um grave desrespeito ao patrimônio cultural brasileiro.

     Hoje em dia o mais importante pólo de resgate da cerâmica marajoara no estado do Pará encontra-se  em Icoaraci, localidade próxima à cidade de Belém.
     Os artesãos usam o barro colhido nas margens dos igarapés da região, modelam, à mão ou em tornos-de-pé, réplicas, peças utilitárias e decorativas, queimam em rústicos fornos a lenha, decoram com engobes, e usam a técnica de brunir.

     Através do Liceu de Artes e Ofícios do local, fundado em 1996, são formados novos artistas do barro voltados para a preservação e a renovação desta cultura. Estes artesãos redesenham a cerâmica marajoara com novas formas, não deixando, entretanto, de fazer réplicas.
     O Liceu  leva o nome do Mestre Cardoso-Raimundo  Saraiva Cardoso figura de destaque nos trabalhos de  resgate da cerâmica marajoara.  O Mestre e sua mulher Inês Cardoso trabalham para o Museu Emílio Goeldi fazendo réplicas de peças Marajoaras.
      Outros nomes importantes, do passado e do presente, no que se refere à cerâmica em Icoaraci são: Seu Cabeludo (Antonio Farias de Vieira), Seu Anísio , Amiraldo, Mestre Rosemiro, Dona Ana, Dona Zuíla, Elias, Cauby, Antonio, Levi, Ademar, Wilson, Júlio, Manuel, Guilherme Santana e Hildelmar.

      Em Icoaraci existem dezenas de ateliês  confeccionando peças que são vendidas para o mercado interno e externo. Um dos principais locais de comercialização é a COARTI- Cooperativa dos Artesãos de Icoaraci, localizada na rua Padre Júlio Maria, próximo à Praça da Matriz; na SOAMI-Sociedade dos Amigos de Icoaraci, Passagem Espírito Santo 20 A, tel 0xx91 2476599 e na COSAPA-Conselho Superior do Artesão do Pará, Travessa Soledade 700 tel 0xx91 2272905/2270127.
      Em Belém podem ser encontradas em diversas lojas da Av Pres Vargas.
     Pela internet podem ser adquiridas peças através do site: http://www.icoaraci.com.br



     
     Não deve deixar de ser visitado o site  www.marajoara.com  que apresenta pesquisas de campo em diversos projetos arqueológicos na Ilha de Marajó dirigidos por Denise Schaan. Estudo da Cerâmica Marajoara e outras abordagens.
Através do site pode-se adquirir um CD sobre a Cultura Marajoara e em breve os interessados poderão solicitar réplicas
de peças cerâmicas arqueológicas online.
     Através do site  www.ArteAmazonia.com  podem ser adquiridas cerâmicas e muitos outros produtos da região amazônica.


      Outro tipo de cerâmica amazônica, a Tapajônica,  foi muito bem estudada  e analisada.  O  referencial é o livro abaixo com 360 páginas e 163 fotos de peças e fragmentos, da coleção do MAE-USP.
http://www.ceramicanorio.com/artepopular/ceramicatapajonica/ceramicatapajonica.htm
Cerâmica Arqueológica da Amazônia
Vasilhas da coleção Tapajônica do MAE-USP
Autoria de Denise Maria Cavalcante Gomes
Edusp-Editora da Universidade de São Paulo

http://www.usp.br/edusp
edusp@edu.usp.br
      Outra indicação é o magnífico Catálogo, cerca de 300 páginas, com texto e fotos, referente à Exposição
Antes – Histórias da Pré – História,
realizada no CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro-RJ, em outubro/04.
      Nesta publicação há material sobre a Cerâmica Marajoara e de muitos outros lugares da região amazônica, arqueologia do Parque Nacional da Capivara-PI etc.

Pesquisa, texto e fotos: Renato Wandeck

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